Início este artigo fazendo a seguinte pergunta: o consumo deve vir antes ou depois da renda? Muito provavelmente, você vai me responder que o consumo deve vir depois da renda. No entanto, a prática diz outra coisa sobre o comportamento do brasileiro quando o assunto é consumo e renda ou renda e consumo.
Esse fenômeno do consumo antes da renda ganhou força a partir do ano de 1994, quando o plano real garantiu estabilidade da moeda brasileira, e redução da inflação, que antes era extremamente alta, impactando diretamente no poder aquisitivo do trabalhador. Eram tempos em que os preços aumentavam constantemente e muito rapidamente, portanto, se em um dia era possível comprar com R$ 100,00, 3 pacotes de arroz e 2 de feijão, no dia seguinte os mesmo R$ 100 compravam apenas 2 pacotes de arroz e 1 de feijão.
Quando o consumo passou a vir na frente da Renda?
Com uma moeda estável, a inflação ficou menor e por outro lado houve um aumento da renda da população, aumentando também o poder de compra. Essa foi a chave fundamental para o acesso ao consumo crédito, e é exatamente aqui onde o consumo começa a vir na frente da renda. Principalmente para a geração que não viveu esse apogeu da inflação lá no teto, acaba não fazendo muito sentido ter renda, para depois consumir, já que existe o crédito agora, e a possibilidade da renda posterior. Então fica a pergunta: por que não consumir agora?
Infelizmente essa mentalidade é nociva e impacta de forma prejudicial aqueles que estão tendo acesso a primeira renda, ou seja, conseguiram o primeiro trabalho e agora não será preciso depender da ajuda de custo dos pais. Enfim liberdade para usar o dinheiro da forma que você acha correto e o melhor de tudo, sem a intromissão dos pais.
É justamente aqui que muitos começam a sua ruína financeira, e o motivo é que mesmo não tendo os recursos em mãos (leia o meu artigo – pedir aumento de salário ou aumentar a disponibilidade de recursos?), as pessoas começam a se justificar dizendo que outrora não compravam o que gostariam porque não havia renda (consumo reprimido), mas agora é diferente há renda e o que está sendo adquirido cabe no salário. Tem alguma coisa de errado nesse processo? De maneira alguma. Isso é do ser humano e faz parte do processo, afinal de contas consumir é tão importante quanto poupar, mas o cuidado que se deve ter é o de permanecer nesse estado, pois caso você não mude a sua mentalidade, as parcelas das dívidas ao longo do tempo vão reduzir gradativamente seu poder de compra, de planejar o futuro, de aproveitar as oportunidades, de investir e criar patrimônio e independência financeira.
Para que você tenha uma dimensão do que estou falando, vou exemplificar uma situação real de um jovem que me procurou com o pai. O filho havia iniciado o seu primeiro trabalho, e receberia mensalmente um salário de R$ 2.300 (líquido), e desse valor parte seria para pagar a faculdade no valor de R$ 870 e o restante… ahhhhhaaa!!!! o restante?!! Essa era a questão! O pai pela sua experiência, não queria que o filho financiasse um carro, e o filho por sua vez, queria financiar, inclusive já tinha verificado que o valor das parcelas caberia dentro do salário e que até sobraria e nesse contexto havia uma ideia errada entre filho e pai: do filho que acreditava que comprar o carro era um investimento, e do pai que acreditava ser um investimento, mas não para aquele momento…. Rsrs… Ambos os pensamentos estavam errados, e infelizmente este é um erro de pensamento que a maioria dos brasileiros, possui, de que carro é um investimento.
Ao conversar com este jovem lhe expliquei o conceito de investimento, e na sequência fiz a ele a seguinte pergunta: qual é o seu sonho? Ele me respondeu prontamente: “fazer especialização nos EUA, assim que concluir a faculdade.” Diante disso fizemos um levantamento aproximado de quanto custaria a viagem e o curso nos EUA, versus o custo mensal do veículo, incluindo:
· parcela do financiamento do carro
· seguro
· IPVA
· licenciamento | seguro obrigatório
· manutenção
· revisões
· combustível
· multas
· estacionamentos
· e a depreciação que muitos não a consideram.
Por fim, fiz uma simulação do custo de oportunidade, caso o dinheiro dispensado para pagar o financiamento e cobrir as despesas do carro fosse aplicada pelo mesmo período do financiamento.
O resultado: ele se convenceu que a melhor opção a fazer era continuar usando o carro do pai, pois o dinheiro usado para pagar o financiamento e cobrir as despesas do carro, renderiam em 6 anos (5 anos de faculdade e mais 1 para acertar as coisas), capital suficiente para que ele pudesse fazer a especialização nos EUA, na área desejada, e detalhe: sem ter que passar sufoco.
O grande ganho foi ele perceber que poupando, poderia fazer a especialização e se continuasse a poupar e juntasse com o que poderia sobrar da volta dos EUA, ele poderia comprar o carro à vista, ou dar início ao seu processo de construção de patrimônio para alcançar a liberdade financeira, ou até mesmo empreender em um negócio próprio, e foi essa a opção feita por ele.
Se você ainda não faz um planejamento financeiro, comece hoje, e consuma com inteligência
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